Fechar Menu

Geração asa e pescoço? Qual o quê!

06 | 02 | 2018
Fala Diretora
0 comentários

1566 visualizações

Geração asa e pescoço? Qual o quê!

Outro dia me lembrei de um pensamento do querido e saudoso psicólogo-educador Içami Tiba sobre a geração atual. Dizia ele que ele e os de sua época (da minha também) eram da geração asa e pescoço e os da geração de hoje são da coxa e peito.
Quando eu era uma menina, não havia a venda frango em pedaços. Esse alimento era comprado inteiro e vivo! As donas de casa tinham que aprender a matar e limpar a ave. Tempos bicudos!
Em casa éramos em muitos e não sobrava para comprar frango sempre. Quando aparecia essa iguaria na mesa, as partes nobres, como na casa do professor Tiba, eram destinadas para os adultos, que eram consideramos mais importantes. Para as crianças restavam os pés, as asas, os miúdos, o pescoço e o resto. Minha parte era o pescoço. Aliás, em casa as partes tinham donos. Era um frango para ser dividido por oito pessoas!
Hoje os pais pensam diferente e dão o que de melhor podem para seus filhos. A grande maioria.
As crianças ganharam status de gente, graças a Deus. São enormemente merecedoras do céu, de todo o ouro que há na terra e de tudo o mais!
Naquele tempo eu sonhava com uma coxa de frango, com um pedaço do peito ou talvez uma sobrecoxa.
Um dia, o chefe de papai, senhor Júlio, me convidou para almoçar um domingo em sua casa com a finalidade de brincar com sua filha única Eny.
Depois de muitas brincadeiras, fomos chamadas à mesa para o almoço.
Assim que vi no meu prato uma sobrecoxa fiquei extasiada! Meu sonho tinha se tornado realidade! No entanto, como miséria pouca é bobagem, eu, que nunca havia comido uma sobrecoxa, não sabia como fazê-lo e fiquei apanhando do garfo e da faca. Em casa ninguém ligava para etiqueta e comíamos com as mãos.
Todos na mesa comiam e se lambiam e eu quando conseguia tirar uma lasquinha do frango, levava `a boca com deleite! Dos Céus!
Somente eu ainda estava lutando com o frango, enquanto todos estavam com os pratos limpos e espichando os olhos para a sobremesa.
Nessa maldita hora, a avó, tomada de piedade tira o prato da minha frente dizendo: Coitadinha, ela não quer mais! Não precisa comer tudo.
Juro que fui acompanhando aquela sobrecoxa com olhos famintos e quase chorosos.
Puxa vida! Que lembrança essa agora!
A vida muda tão depressa e coisas que eram importantes e inatingíveis, de repente se tornam corriqueiras e uma bobagem.
Às vezes não conseguimos entender nossos alunos, pois fomos criados de forma muito diferente, porém, para não ficar como a avestruz, com a cabeça enterrada na areia, devemos compreender as mudanças e tentar de todas as formas fazer o nosso melhor por eles.
Essa turminha não merece mesmo asa e nem pescoço!

Sonia Regina P. G. Pinheiro