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Plantar e colher. Nem sempre no nosso tempo!

11 | 02 | 2020
Fala Diretora
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Plantar e colher. Nem sempre no nosso tempo!

Na educação, como na vida, muitas vezes não temos verdades absolutas e nem podemos fazer previsões sobre o futuro dos alunos que estão sob nossa responsabilidade.
Conheci a Ritinha, que hoje tem 42 anos. Era uma menininha insegura, triste e sofrida.
Por alguma razão a mãe tinha abandonado ela e o irmão menor com os avós das crianças.
Eram muito pobres e sem cultura. Dava dó de ver!
Quando ela entrou na escola pública, com 7 anos, não tinha qualquer contato com as letras. Vivia no colo de sua professora, que a carregava como um bebê. Carente de tudo!
As professoras que viam a menina no colo de sua professora, teciam críticas. Diziam que a menina era muito suja e que não deveria ficar com ela assim, porque provavelmente nem tomava banho! Essa professora se vestia impecavelmente e sempre de salto! Uma dama!
A resposta era afiada: eu acho que se der amor por um ano para uma criança que não tem mãe, esse buraco imenso no coração dela terá um pouquinho do carinho que estou dando.
Essa menina levou anos para se alfabetizar! O tempo passou e perdemos o contato.
Hoje essa mulher tem dois filhos, mora em Portugal há dez anos onde trabalha como enfermeira chefe de um Hospital em Lisboa. Escreve para mim sempre!
Quando leio seus textos, fico babando! Onde foi parar a menininha carente de outrora!
Quero encontrar sua antiga e primeira professora para contar as novidades, mas não sei quando conseguirei. Ela não tem redes sociais e nem WhatsApp. Tem rede de amor e afeto, apenas!
Posso contar inúmeros casos, mas hoje, por coincidência, uma senhora me ligou para dizer que o Antoninho entrou na USP em Engenharia!
Fui verificar suas médias nos anos em que estudou na nossa escola. Eram regulares, sem nenhuma média que merecesse louvor. Mistério?
Seu pai trabalha conosco. É ajudante geral. Sua mãe, faxineira. Ela trabalha dois dias por semana. Ele tem mais quatro irmãos.
Após o ensino médio, o Antoninho foi procurar um cursinho vestibular e lá preencheu uma ficha pedindo bolsa de estudos. Fez um ano de cursinho. Começou a ler e a estudar como um possesso! Ficava se lamentando do tempo de escola, quando não prestava atenção às aulas e só fazia para o gasto.
Nunca emprestou um livro na nossa biblioteca. Hoje, lê como um celerado: só coisa boa! Clássicos da literatura brasileira e universal. Quem te viu e quem te vê!
Veio fazer uma visita à nossa escola para contar as novidades. Estava feliz. Não pudemos deixar de notar o livro que trazia embaixo do braço: Crime e Castigo!
Para nós educadores e também para os pais, não há como deixar de ter esperança sempre.
Façamos o melhor e deixemos que o tempo nos dê a resposta de nossos esforços.

Sonia Regina P. G. Pinheiro

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